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Arquitetos: Ricardo Camacho ; Ricardo Camacho
- Ano: 2014
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Fotografias:Nelson Garrido
Descrição enviada pela equipe de projeto. Após as muitas preocupações quanto a integridade do parque durante os últimos anos, o Emir Office (Kuwait Amiri Diwan) reclamou, em 2012, o uso do Parque Al Shaheed para celebrações e festivais nacionais sob a memória dos mártires de guerra. O monumento para celebrar o "jubileu de ouro da Constituição de Kuwait", foi a primeira ação em relação a revitalização, seguida de um amplo programa de edifícios públicos, entre eles dois museus, estacionamentos, centro de visitantes, um lago e um aviário para o antigo parque. O processo de re-desenho esteve fortemente afetado pelo valor estratégico precedente deste projeto não finalizado, principalmente através da compreensão da proposta anterior de Peter e Alison Smithson para a mesma área (1969-1975).
A proposta paisagística utiliza uma malha existente composta pelos serviços subterrâneos e as árvores existentes, que distribuirá todos os eventos programáticos ao ar livre e cobertos - os edifícios - que serão logo convertidos em montículos devido a preocupação com a acústica - a proteção contra o ruído - e o impacto visual dos arredores. Em um maior grau esta malha será um meio para trabalhar com o vento, o ruído, a poeira e a orientação solar. Cria-se um referencial que é capaz de reconhecer os limites atuais do parque e as árvores, serviços subterrâneos, o Monumento da Constituição e a direção de Meca, assim como proporciona conexões entre todos os elementos através de três vias - o caminho Emir, a rota de visitantes e a pista de corrida.
O volume de terra, seu transporte e armazenamento criam o lago artificial e o estacionamento subterrâneo (requisitos do programa), identificado as oportunidades para transcender a normativa e proporcionar os recursos arquitetônicos para os elementos fundamentais dos edifícios. A autorização do Conselho Municipal foi clara a respeito do programa construído, apresentando o argumento de que nenhum edifício poderia ser erguido desde os jardins do Cinturão Verde, por tanto, todos os edifícios propostos estão submergidos no solo. A possibilidade de introduzir coberturas verdes extensivas para áreas maiores em Kuwait se converterá em um desafio similar ao uso da estrutura de concreto e aço para a construção da central nuclear Shuwaikh e da usina de dessalinização em 1953, as primeiras estruturas modernas construídas no Kuwait.
O Habitat Museum, 'Mathaf AlMawten' em árabe, é uma longa duna de areia com plantas nativas que se movimenta proximamente aos caminhos do jardim e cobre a sala de exposições, biblioteca, laboratório, escritórios, cafeteria, livraria e centro de aprendizagem para crianças. Desde a cobertura verde do estacionamento subterrâneo a terra cai por baixo do solo para acessar o pavimento do museu, enterrado com uma estrutura única de molduras vazias em direção a depressão salina e o deserto.
Os velhos elementos dominantes do parque Al Shaheed, a fonte e o anfiteatro, foram substituídos pelo lago de doze mil metros cúbicos. A capacidade da água do lago determinará um limite a capacidade de vegetação e plantação desse reflorestamento, respondendo a solicitação de Amiri Diwan de autonomia da água de irrigação. O arquiteto paisagista esteve desde os primeiros momentos interessado na compreensão da continuidade e unidade junto da paisagem nativa do país. O movimento do solo foi instrumental para recriar ao longo do parque uma sensação da paisagem do Kuwait, desde o planalto do deserto e os mananciais no norte até o oásis ao sul, incluindo depressões salinas e bosques de acácias. Ladeando o novo lago, tanto o Centro de Visitantes quanto o Edifício da Administração são tentativas de reprodução da tipologia de edifício pátio.
No Centro de Visitantes, o solo se encontra a 80 cm abaixo do nível do jardim e abre-se em duas direções que permitem a ventilação cruzada de ar e seu movimento de refrigeração através do edifício quando se conecta ao pátio interior. A instabilidade programática deste edifício durante a etapa de desenho gerou uma série de adições ao redor do núcleo, quase como uma antiga vila da cidade com suas adições posteriores. A massa resultante deste processo definirá a constituição da colina em sua topografia e volume - o solo cobre todos os anexos.
No extremo oposto do jardim, em direção a uma antiga Porta de Sha'ab, o museu dos mártires de guerra apresenta a "linguagem arquitetônica de proteção: no térreo proporciona um 'oásis' de sombra na cidade" enraizado na indústria da construção do Kuwait desde que Peter e Alison a trouxeram no diário da disciplina contemporânea com a "demonstração do mat-building" dos escritórios dos Ministérios do Kuwait de 1970. O novo museu é definido por uma cobertura livre sobre pilotis "uma planta elaborada através da regularidade dos troncos em uma floresta de palmeiras" que contém as diferentes dimensões programáticas do edifício dividido em pavilhões, desde a galeria de exposições a cafeteria, oficinas e centro de pesquisa. Sob a laje, os pilotis se expandem para fora do edifício como os troncos de um novo bosque de palmeiras que conduz a antiga porta da cidade através de uma paisagem subterrânea construída durante "estes anos de guerra".
O limite do bosque de palmeiras é definido por um sistema de retenção de "jardins de terraplanagem" revestidos, não em azulejos tipo persa, mas sim com azulejos portugueses tridimensionais. Estes elementos de retenção quando definem as faces internas do edifício contém banheiros, salas de oração e outras instalações de serviços que são divididos entre o uso do museu e o jardim circuncidante, "As faces" frontais a estas "galerias" definem também a circulação do edifício e "possuem paredes de vidro que são auto-sombreadas e resfriadas pelo movimento transversal do ar".
No ponto mais baixo e fresco do jardim, o visitante será guiado pelo passeio subterrâneo até um anfiteatro, a antiga porta da cidade "Maidan", onde as paredes ainda possuem azulejos e as cadeiras são portáteis para encontros ocasionais ou grandes atuações. O público se senta entre a etapa inferior, protegida do sol e do ruído das rodovias circuncidantes e a plataforma superior, onde a porta antiga se encontra em frente a rua Sour. No nível mais baixo, o próximo túnel em direção ao sul indica a possibilidade de conectar-se com uma nova extensão dos planos de reconversão Amiri Diwan, na categoria de "Esportes Maidan", um campo polivalente que pode funcionar como uma provocação para fazer com que a população jovem participe no esporte e no espírito empresarial.
O esquema de transformação do parque Al Shaheed divide com a proposta de 1969 formulada por A + P Smithson, na Bienal de Veneza de 1982: " a cidade após 1951 precisa de um lugar histórico; um sistema de passarelas elevadas oferecem 'um lugar para ir' em Kuwait (...) estas seriam lugares para visitar", mas não limitam-se a um solo preciso, um alcance limitado ou uma intervenção tática. Ao contrário, a multiplicidade de programas de edifícios públicos e sua relação com as dimensões da cidade possuem o potencial de afetar uma concepção estratégica mais ampla do projeto em seu conjunto.
Cada um dos programas inseridos nesta transformação do parque devem ser lidos como um plano de ação cuidadosamente organizado com objetivos formais e sociais precisos. Estes são os componentes de um projeto integral de Amiri Diwan de instigar a participação dos cidadãos no espaço público da cidade mais além dos centros comerciais privados. Hoje em dia, esta concepção maior informa a prática do Escritório de Emir e as políticas sociais.